1. |
Juntar Desgraças
01:52
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Um dia eu ainda canto
E assumo desafinado
O português é o meu esperanto
Para a métrica um retornado
Um dia eu ainda invoco
Que isto é só coração
Cada letra que sai quebrada
Sai para te chamar à atenção
Falta-me ler os poetas
Falta-me largar a ronha
Deixar as rimas secretas
Sem que a cabeça se oponha
Partes de mim rejeitam-me
Partes de mim fazem-me Deus
Canto e o poema é mais eu
Cada verso foi o que se perdeu
Cada poema é uma perda.
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2. |
Mãos
03:39
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Olho-te em escada
Alta e longe
Nem sopro para chamar
Não tiro os pés do chão
Não vá cavar um buraco
Tenho-me andado a habituar
Dizes que ninguém perde a vida inteira
Que sou novo para não me aproveitar
Soubesses tu que tens o nome do meu azar
Não se aconselha em quem se ama
A cada segundo que passa
Acho-te mais graça
A cada segundo que finda
Pareces-me mais linda
Ainda
Cara de salmão corada
Arde a pele no corrimão
Estou de mão beijada
A minha queria sentir a tua
Não precisava de mais nada.
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3. |
As Algemas Perderam A Lã
02:14
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Fim de noite de namorados
Amparados um no outro
Em risinhos alternados
Acordamos despegados
Para ti é só hábito
Para mim já somos casados
Não estás para conversas
Já te falava da família
Tu és avessa a pressas
E eu que pensava em casa
Filhos e mobília
Para ti foi muito rápido
Para mim em câmara lenta
Foges veloz do cupido
Eu no máximo ando a quarenta
Nem sabes o meu nome
Para mim foi tão especial
Acordaste com fome
Faço-te a refeição matinal
Está tudo de pantanas
As algemas perderam a lã
Foi como outro fim-de-semana
Será que ela quer ser mamã?
Para ti foi muito rápido
Para mim em câmara lenta
Foges veloz do cupido
Eu no máximo ando a quarenta.
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4. |
Cento E Dezoito
02:15
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Não nasci com calma
Nunca soube esperar
Em mim nunca é chuva
Quando toca a precipitar
O café está quente
Não há tempo para soprar
Antes que ele se canse
Antes deixar queimar
No que inventar
E não souber fazer
Ser o mais afoito
Com tanta pressa em viver
Amanhã faço cento e dezoito
Se abrandar, por este andar
Tenho de um cão as heras
Assim, na melhor das hipóteses
Morro com mil e tal primaveras
Diz que o tempo
Passa tão depressa
Para mim tão devagar.
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5. |
Não Te Cases Filho
03:59
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Beijo-te para calar
A minha oposição
Barulho a abafar
A má argumentação
Se não houver altar
Eu faço uma canção
Mas não venham elas trocar
O teu sim por um não
O que elas dizem é da boca para fora
São a soma dos medos de velhas sem hora
A minha mãe mal espera pela nora
O tempo que elas falam
É o tempo do diabo
Se precisares de naperom
Tenho um enxoval bordado
Não te revejas nas velhas
Que dizem para não casar
Se o que ouvires delas
Te faça não querer ficar
É a nossa geração
Que acaba a má tradição
De um par ser eterno
Mas com o tempo a roubar satisfação.
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