1. |
Mudanças
02:27
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Pensamos uma casa igual
A vida inteira talvez
Uma renda que deixe comer
Sem ser a dividir por dez
Vem tu para o meu canto de cá
Já que ele é mesmo como és
Muda-te a pouco e pouco
Uma camisola de cada vez
Pensamos o mundo igual
A mesma calma, o mesmo ar
Vai falando, não te cales
Só para eu poder concordar
Vem como se não fosse nada
E vai ficando para jantar
Há 20 mensagens que não dizemos nada
Mas continuamos a falar
Queres os livros no chão
O colchão no chão
As roupas no chão
Queres os desenhos no chão
As malas no chão
Só queres ter um chão
Já não saber de quem é
O que parece ser dos dois
O teu pijama em cima do meu
Dobrado sem desmazelo
Quando as minhas coisas todas
Ganharem o teu cheiro
Confundir a minha almofada
Com o teu cabelo
Vestes as minhas camisas
Eu visto as tuas calças
Temos a mesma medida
Que sorte sermos iguais
Ou campo noutra idade
Talvez para sermos a sério
Nem Platão me quer na cidade
Mas não há bom remédio
Queres os livros no chão
O colchão no chão
As roupas no chão
Queres os desenhos no chão
As malas no chão
Só queres ter um chão.
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2. |
Bruços
02:58
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Não vou abrir mais a boca
Deixo-me ficar calado
Aprendi a viver para dentro
Roer-me bem triturado
Até vou envelhecendo bem
A idade vai-me acalmando
Ganhando vícios de pobre
Que nem me chegam a ir matando
Desculpa mãe se cresci para o lado errado
Também não era suposto ter acabado aqui
Escondi tão bem o que tinha guardado
Só quero ser alguém que possa andar sossegado
Não quero ter quatro dígitos
Para andar sempre mal contado
A somar mais ao deitar
Medir a pila em juro inflacionado
Eu só quero dormir em paz
E que me deixem dormir deitado
O dia já obriga a andar
O dia todo mal sentado
Desculpa mãe se cresci para o lado errado
Também não era suposto ter acabado aqui
Eu escondi tão bem o que tinha guardado
Só quero ser alguém que possa andar sossegado.
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3. |
Jovem Adulto
02:05
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Fiz a cama de lavado
Passa-se o dia a correr
Tou cada vez mais velho
A usar frases dos meus pais
Pus os pés de molho
Nas lágrimas que engoli
Escondi-me tão pra dentro
Que já não apareço mais
Fiz o meu dia de jovem adulto
Menos ocupado do que pareci
Deito corpos mortos no caminho
Só pra ocupar o meu vazio
Não oiço quem mo diga
Mas sei que o meu dia virá
E vou andando pelo deserto
A dizer pra mim que é o rio
Sei que um dia virá
Mas não me vão ouvir da boca
Sei que o meu estará
Lá plantado no tempo
Sei que um dia virá
É assim que assim é
Sei que me encontrará
Lá plantado no tempo
Passei o meu dia a ferro
Na solidão que lavei à mão
Estaria orgulhoso de mim
Quem a mim quisesse bem
Perdi sempre pela margem mínima
E nunca fui até ao fim
Chamaria de mundo a quem
Me achasse também assim
Passei o dia em claro
Pensei no que quero esquecer
Vou procurar lixo novo
Só para este ir mais para baixo
Agora que sou um jovem adulto
Já me exigem mais além
Por fora finjo cada vez melhor
Que no fundo até me encaixo
Sei que um dia virá
Mas não me vão ouvir da boca
Sei que o meu estará
Lá plantado no tempo
Sei que um dia virá
É assim que assim é
Sei que me encontrará
Lá plantado no tempo.
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4. |
Enforcado
02:45
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O que é que há do lado de lá do enforcado
Que o faz saltar?
O que é que há do lado de cá do enforcado
Que o faz pensar?
As nuvens tão perto dos pés.
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5. |
Nem Eu Sei Bem
02:26
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De certeza que é pró ano
Que me sai uma canção
Talvez de tanto profano
Isto ainda dê em oração
É a pior memória
Eu nem sei nem esqueço
Não vindo Nossa Senhora
Sou eu que apareço
Eu pego no piano
Ainda com o pincel na mão
Não vender tem o seu preço
O meu lado pachecal
Perde sempre para razão
Talvez morto cause mais apreço
Um buraco no chão
Lá vou eu esconder
O que eu sou há-de caber
Um buraco no ozono
Lá vou eu saltar
Ninguém me encontrará no ar
O silêncio à volta
Ninguém para falar
Foi tudo embora
Agora que ia contar
Um banho de realidade
Comigo a sonhar
Até a expectativa
Tá cansada de esperar
Se ninguém gostar gosto eu, enfim
Mas quem é que eu quero enganar?
Faço canções para que gostem de mim
Já não consigo separar.
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6. |
Ex
02:10
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Eu vi ao longe a curva
Mas isto aqui nunca mais vira
Quantas canções tenho de fazer
Até que alguém acredite em mim?
Eu vi na linha do horizonte
Um futuro igual ao que eu previ
Quantos não amores tenho de amar
Até o amor verdadeiro me encontrar no fim?
Os beijinhos nunca são um beijo
A gente ri-se mas estou a falar a sério
Uma conversa cheia de ex
Ama-se tanto com o amor que já foi
Todos os fundos são tão bons
Até chegar ao fundo de alguém
O Titi é tão divertido
Mas é uma máscara que tem.
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7. |
Alguém
03:04
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Era não viver mais em canções
Onde me visse mal e bem
Tar tão cheio, tão aquém
Numa vida assim assim
Escrever sempre um amor
Onde tudo me saia bem
Mas expectativa pra mim
É já só poder gostar de alguém
Só queria um amor
Não me importa muito quem
Só queria ficar para sempre com alguém
Pode ser homem, mulher,
O que até não me convém
Só quero a ideia de ficar
Para sempre com alguém
Era uma vida mesmo assim
Tal e qual como não é
Bonitinho e afinadinho
Com a moral de pé
Não quero ter que sofrer
Pra viver e ser bom cantor
Mas a vida nunca mais vem
E eu já só quero poder gostar de alguém
Só queria um amor
Não me importa muito quem
Só queria ficar para sempre com alguém
Pode ser homem, mulher,
O que até não me convém
Só quero a ideia de ficar
Pra sempre com alguém
Não há mesinha velha que me valha
Não há semana só que não se some
Não há modinha miúda que me meça
Não há truque torto que me tome
Já tentei tudo e o contrário
Aquém e à frente dos bois
Quero muito que voltasses
Quero muito que voltarás
Quero muito que voltes
Antes agora e depois.
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8. |
Acaso
02:56
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Ponho a cara certa
Como gosta o mundo
Engulo a seco
O que a vida me traz
Finjo que sei
Como se passa um dia
Quando apalpo no escuro
Como é que se faz
O mundo boicota-me e pede que ria
Calado remoo até adormecer
Só me tira o sono até fechar os olhos
Tudo voltará amanhã pra voltar a ser
Sou mais Lisnave que Cristo Rei
Faço como faz um bom cidadão
Amanhã tudo estará no mesmo sítio
Prá vida é o corpo pra lá do chão
Sou tão bom e perco sempre
Vou-me abeirando ao que aparece
De que me vale acreditar no acaso
Se ele nunca mais acontece?
Quando olho está sempre lá o espaço
Vai a carne em bocados para o calar
A cabeça inundada em nomes e vozes
Vejo um corpo nos corpos a andar
É assim a vida, já dizem os velhos
Aprendo com quem não sabe há mais tempo que eu
A ver como corre que a gente ainda dura
Pode ser que me calhe o que podia ser meu
O que me dói é saber que existe
Tudo aquilo que eu quero.
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9. |
Fado Fado
01:24
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A virgindade não me levou a infância
A morte não me levou a vida
A vida não me levou a morte
A noite não me levou o escuro
A água não me levou a sede
A sorte não me levou o susto
O governo não me levou o sonho
O presente não me levou o futuro
A ternura não me levou a culpa
O sono não me levou o remorso
As quedas não me levaram as pernas
A voz só me deixou mudo
Ninguém me levou a solidão
O amor não me levou a mim
Os anos vieram como foram
A idade só me trouxe tudo.
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10. |
Fim Do Mundo
02:26
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O fim do mundo é no cu de judas
Até lá é tanto caminho
O diabo a sete só sabe contar até cinco
De um a um no mindinho
Os filhos dos enteados não chegarão a pais
Mas terão com quem casar
O fim do mundo acabará no lado certo
É uma questão de esperar
Eu ficarei a fazer contas de cabeça
Cá para com os meus botões
Vou rever pra que não me esqueça
Das minhas próprias resoluções
Eu morrerei um dia ao me deitar
Mas ao menos fiz umas canções
Serei eu próprio a me lembrar
Das minhas próprias revoluções
De ouvidos sou mouco
De olhos sou calado
Vejo sempre pró mesmo lado
De braços sou coxo
De pernas sou manco
E tenho o coração cantado
O rei vai nu mas não leva os bolsos rotos
A terra de ninguém ficou pra algum
De barriga cheia até a água do mar
Pára a digestão do jejum
Eu ficarei a fazer contas de cabeça
Cá para com os meus botões
Vou rever pra que não me esqueça
Das minhas próprias resoluções
Eu morrerei um dia ao me deitar
Mas ao menos fiz umas canções
Serei eu próprio a me lembrar
Das minhas próprias revoluções.
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