1. |
O Amor Dá-me Tesão
02:48
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Já cheguei a velho
Não tenho energia
Nem a tal canção
Agora contagia
Para minha alegria
Mais uma pubalgia
Já cheguei a antiquado
Escuso de cantar o fado
E o tempo não me dá tempo
Para ter três mil facetas
Mais as dez mil que queria
Um dia deixo as caretas
Fico pela filosofia
Mas hoje até beatas
Me parece pornografia
Que bom, estou velho e tapado
Agora é que eu vendo bem
Em novo já era enrugado
E o que escrevo
É o que não digo a ninguém
Velho não tem salvação
Só tempo para o que medito
Juventude não foi sensação
De que me adianta agora o que cito?
O amor dá-me tesão
E eu tenho andado tão murchito
Velho não tem salvação
Tudo é devagarinho
Juventude não foi sensação
Agora ainda pia mais baixinho
Ser fiel dá-me tesão
E eu tenho andado tão sozinho.
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2. |
Flor De Cheiro
02:38
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Conto oceanos para adormecer
Não me embala navegar
Até me arrependo de esquecer
Das vezes que tive de acordar
Quando cai nunca cola igual
Mesmo que o aí agora não doa
Vou guardando tudo o que vai
Enquanto couber com que me perdoa
Prometi-me que te cantava esta
Já não faço força para que aconteça
O feitio de um gajo é carne velha
Não é coisa que se contorça
Eu ainda sou pior do que era
E nunca fui flor que se cheirasse
Vou entretendo a voz para ninguém
Meio por o ser, meio por disfarce
Enquanto continuar a rodar
Vou tendo com que me desfazer
Quando a canção se repetir
Já não tenho que fazer
Outra igual.
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3. |
Rua Dos Açores
02:48
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Se o arrependimento matasse
Nem tinha tempo de me nascer
E fosse o tempo coisa que voltasse
Já sabia o que era para fazer
Mas o que é que eu faço a este tempo todo?
Às horas que tenho para ser cru?
Que me doa tudo duma vez
Bom velho mal a nu
Se sem ti nem deus sabe
Cabe-me agora imaginar
Esperar que o mundo não acabe
Só por o não ver começar
Há dias vi-te de raspão
E nem acho que eras tu
O que já era bom de ver
Já só vejo em deja vu
Releio um verso que te escrevi
Numa qualquer manhã de verão
Ele continua a ser meu
Tu agora é que já não.
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4. |
Freiras
01:55
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Rompo as calças a estrear
Um joelho novo a cada dia
A mãe em casa a ralhar
Remendo em remendo a tapar
Um dia inteiro a jogar
À bola com pinhas e figos
Vem a freira interromper
Com a mesma canção quebrada
Deixei eu tudo para prometer
O que não sei se ela tem guardada
A diversão aqui é anticristo
A alegria amaldiçoada
Ao menos no muro caiado está a Beatriz
Camuflada de altar
Apontou para mim como quem diz
Que vai ser para namorar
No muro caiado mais eu reluzi
E aqueci no meu corar
Foi por um triz que a Bia
Não foi para o Manel
Compensou a hora e meia no carrossel
Agora salto à corda
À macaca e apanhada
São brincadeiras de menina
Mas a Beatriz é minha namorada.
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5. |
Nómada
02:43
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Até me imaginava bem
Sem grande imaginação
Ou balanço d’alguém
Que tem menos que uma mão
Como vai soar ao acaso
Dizer que não vem ninguém?
Não parecer trapalhão
Contar que sou assim também
Eu largo cada convicção
Passo a ter só uma profissão
Cada dia um poema por atenção
Já que não é não
Não queres os carros
Vamos para a aldeia
Não queres os tratores
Também mudo eu de ideia
Se preferes acampar
De semana a semana
Mudamos de habitação
Que eu não sou nómada
Se morar no teu coração.
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6. |
Deixar Deus Em Paz
02:25
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Quero não ter que rezar
Nem saber como se faz
Deitar-me ao lado da oração
Deixar Deus em paz.
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7. |
Pastilhas
02:01
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Tenho pastilhas para dar à Mariana
Azar para quem quiser trocar
O diabo afeiçoou-se tanto a mim
Qualquer dia cede-me o lugar
Trouxe a camisa que a faz rir
Nos outros dias ando um farrapo
Só pioras mais ao dizer
Que adoras “A Princesa e o Sapo”
Mas se me chamas de novo
É porque há um princípio qualquer
É o silogismo que é muito óbvio
Ou sou eu a ver o que não vai haver?
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8. |
Fiação & Tecidos
03:26
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Rasgar mar dentro
Sem saber se chego a terra
Se tenho braços para os oceanos
Mãos para palmear a serra
Querer mandar na atmosfera
Ter a voz sempre sincera
Já que lhe conheces os tons
Evito fazer-me fera
E se disseres o meu nome
Com o apelido também
Para te destapar o ventre
E o amor e o medo do que vem
Não temes mais do que eu
Pelo meu desgoverno só
Mas esse medo já nem é de mãe
É de avó.
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9. |
Cerejeira
03:07
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Já não me quero comparar
Nem pensar no que não vem
E agora só voltava atrás
Para nascer filho-da-mãe
Resta deixar-me ficar assim
Com o que não serve a ninguém
E arrepender-me até ao fim
Do que me disseram que era o bem
Anda um gajo a ser bom
Não sei bem para quê
A tentar agradar
A quem nunca vê
Arrumo a trapalhada
Ser POC tem que render
Se isto não for Fachada
Há-de ser outra coisa qualquer
Já não vou com pressa
Sigo a esperar
Que a cerejeira dê em flor
Espero que apareça
Sigo a esperar
Que a cerejeira dê em flor
Sentado não se tropeça
Sigo a esperar.
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10. |
Tentar
01:17
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Os lemas acabaram lamentos
Só eu é que nunca soube mudar
O tempo vai dizer se eu tento
Bem ou mal, o prazer de ficar
Foi mau
Ou foi só sorte
Foi eu sei lá
Foi no seu tempo
Ou só vai ser amanhã
Foi como está
Eu faço e é por fazer
Viver também é aguentar
Tudo o que eu tenho
É com o que eu nasci
E vou usar para cantar
E enquanto vou cheirando e olhando
Vou vivendo a tentar.
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