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Está Tudo Bem

by Tiago Félix

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1.
Peixe 02:34
Veio a onda e levou até o que não era peixe morri da morte de outra pessoa o silêncio amadureceu agora é mesmo mudo a onda era de som e já não ecoa o mar é feito de quê? Então nós, então e nós? Somos ossos e água cabeça e voz mas neste remoinho de maré a vazar fomos muito mais pedra do que mar às vezes esqueço sem que me pese o peso que tinha ou o peso que tem às vezes lembro-me reparo que me esqueci dou por mim a pensar no mesmo de sempre às vezes esqueço sem que me pese o peso que tinha ou o peso que tem às vezes lembro-me então nós, então e nós? Somos ossos e água cabeça e voz fecho-me em casa meio chorado a tentar agarrar-me aqui mas este gesto de fechar de mão fechou-me sobretudo a mim tornei-me o vazio do que não está eu tenho nada e medo de perdê-lo mas há um certo conforto em ser infeliz a tentar não sê-lo.
2.
Semente 02:26
Quando chegaste habituei-me ganhei os teus tiques e modos quando foste embora só fiquei com os teus defeitos todos Eu pensei-nos tanto aos dois a ter tudo o que não tenho já velhinhos enrugados a fingir que era do banho Eu sei que o meu amor não vai curar ninguém o meu coração não é semente de nada eu sei que o meu amor não vai curar o teu o meu coração só foi semente do meu Quando chegaste eu pensei que era um início e um final ir para o campo, ter três filhos ser aborrecido e banal Fotografar-te em analógico e pintar e escrever e tocar ter tudo até não ter mais coisas pra sonhar Eu sei que o meu amor não vai curar ninguém o meu coração não é semente de nada eu sei que o meu amor não vai curar o teu o meu coração só foi semente do meu.
3.
Amigos 03:13
Se for embora sem dizer talvez ninguém dê conta que entretanto fui indo bastante antes do fim a magicar uma desculpa que não seja outra mentira ponho-me num canto da sala e quem sabe se esqueçam de mim eu que era tão social empático e divertido já fui alguém que alguém quisesse ter como amigo passei do centro da festa diretamente pra saída o bff agora é um fdp pra quê uma despedida amigos cada vez mais parecidos com os meus inimigos mesmo eu ainda a tentar fazer as pazes comigo não sei se é mais saudável eu esconder-me ou fugir quanto mais fico em casa mais difícil é sair e da janela dá pra ver gente na rua tão contente mas se me for pôr no seu lugar talvez ficasse só a olhar e eu que nunca mais dancei para ter linhas retas onde assentar quão mau é preciso se ser para a melhor estratégia ser esperar? amigos de infância a casar com carros e certezas com casas novas e a prosperar felizes nas suas vidas e eu cada vez com mais dúvidas sem saber onde está a verdade num quarto onde não caibo a meias paredes com a felicidade.
4.
Era suposto ter piada mas ficou escuro e aborrecido sair daqui parece tão duro e comprido não sobraram certezas só dores e dano o plano já só é refazer o plano quando é que os meus erros vão passar a ser estilo? Quando é que tudo isto fica tudo mais tranquilo? Talvez seja sempre triste e nada cure o tempo em vez de mais perguntas para quando cimento? Há muito que não é um ping-pong onde o meu reflexo rouba continuação por mim isto era gente em vez de ser canção.
5.
Ainda não foi hoje que acordei às oito já tá o dia perdido vi um riso meu a dar à costa mas morreu-me na boca vencido esqueci-me de tomar o pequeno-almoço pra quê procurar um sentido? com coisa nenhuma estou cada vez mais parecido tenho uma mão cheia de tudo e o coração no chão ahahahah um riso falso quantos quero, quantos são o jantar de hoje dá pró almoço de amanhã que bom, poupei mais um dia nada com nada quantos vão eu deixei o ás para o fim mas no fim já não tinha fome eu pus o dedo na ferida mas a ferida não é carne que come nem comunidade nem eco sinto-me cada vez mais sozinho sou a minha ruína e inferno esse tornou-se o único caminho sou a lei de Murphy de Murphy por este andar vou morrer cedo mas há lá coisa mais de adulto do que ter sempre medo? eu fui-me dando razão os dias foram sendo iguais dar tempo ao tempo mas também a mim eu já dei tempo de mais ir dar uma volta, desmoer levar a cabeça onde o resto for eu ainda me tento salvar com coisas que só fazem pior.
6.
Dezembro 02:26
É claro que tudo é relativo mas o meu coração não lutar sim, mas por quanto mais tempo? começo a cansar-me de mim sinto-me a acordar dentro de ontem um ontem que já foi ontem também mesmo o que acabou, suspensa no ar, a sensação que antecede o fim mas é claro, tudo é relativo o meu corpo é que não começo a sentir um certo pudor em partir já pra perder mesmo o meu silêncio onde sou tão bom tenho medo de onde me leve porque pode-se sempre escurecer mais a noite da noite da noite e a minha felicidade tornou-se em substituir preocupações são só aqueles dois segundos em que parece que tudo condiz e talvez a felicidade não esteja em nada daquilo a que me agarrei eu não tenho a certeza sequer se quero ser feliz.
7.
Casa 02:48
Quero ter uma casa justificar um lugar quero que tudo seja suficiente e familiar só queria ter uma casa ter armários e um sofá coisas demasiado pesadas pra que amanhã não estejam cá quero um lugar onde possa estar e juntar o que fui somando arrumar coisas em prateleiras quero poder estar e ir ficando quero uma estante e gavetas livros e carpetes no chão quero rodear-me do que sou ter tudo ao alcance das mãos quero ter espaço pra pintar quero poder ficar aquém quero sentir que pertenço a um lado sem ser no bocado de alguém quero poder andar descalço quero ter o meu próprio centro quero ter uma casa por fora para construir uma casa por dentro.
8.
Parece que já nem consigo encontrar-me na minha sombra mas há dias em que até gosto do que ela me lembra e nas fotos de puto pareço tão feliz parece que já nem consigo e agora o que ainda me resta? se casa é onde estou que sensação é esta de pensar sempre outro lugar? eu ainda me finjo de parvo para sobreviver aqui mas só ando pra trás mais pra trás do que já vim eu ainda me finjo de parvo para não fazerem de parvo a mim quando eu vejo finjo que oiço quando eu oiço finjo que vi parece que já nem consigo não pensar senão no pior mas preciso ficar bem comigo seja isso o que for eu tinha tão bons planos pra mim parece que já nem consigo dizer aquilo que canto mas se é a realidade porque magoa assim tanto as coisas serem como são? Eu ainda me finjo de parvo Para sobreviver aqui Mas só ando pra trás Mais pra trás do que já vim Eu ainda me finjo de parvo Pra não fazerem de parvo a mim Quando vejo finjo que oiço Quando eu oiço finjo que vi.
9.
Tupperware 03:01
Desço a rua e tou na Almirante Reis palmilho-a com o sol na cara o cheiro a ganza e a kebab no ar e eu a sentir-me mais um vegetal museu de domingo até à uma só espero ainda chegar a tempo a rotina tão planeada e mesmo assim saí-me tudo mal meto a bucha e o livro no saco e vou pró trabalho manhã cedo tento habituar-me à ideia que ter sucesso é um contrassenso e vou andando a correr na minha vida de tupperware frigorifico e micro-ondas talvez seja tudo o que mereço três e meio à hora e assinei de cruz nunca mais tens um fim-de-semana primeiro queixei-me durante um bocado depois amochei como toda a gente escrevo poemas em horário laboral assim se combate o capitalismo é uma no cravo e outra na escravatura mas 25 de abril sempre.
10.
Colombo 02:27
Saio de casa a desejar voltar sinto-me cada vez mais apático só espero conseguir ao menos parecer simpático o que diria o eu de há uns anos ao ver como a realidade muda bom dia, em que posso ajudar? não vê que sou eu quem quer ajuda? e penso no sentido poético enquanto peço o contribuinte devia estar a construir algo meu resolver um problema, pensar no seguinte e vou-me prometendo que será tudo diferente que ainda me vou rir disto que vou chorar de contente mas o mais certo é cansar-me do que não vi acordar à mesma hora e voltar para aqui.

credits

released April 1, 2021

Tudo por Tiago Félix exepto:

Pré-Produção com a preciosa ajuda do Éme e da Moxila, a quem eu agradeço a amabilidade e tudo o que me ensinaram. Devo-lhes, a existir, as virtudes do disco, e um pedido de desculpas pelos defeitos que não consegui corrigir.

E capa, salva pelo Gonçalo Fialho.

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Tiago Félix Alcobaça, Portugal

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